Quem fez minha marca?

26/04/2017

Ricardo Rodrigues usa bordado e aproveitamento de materiais em sua arte gráfica e literária

Em sua mesa de trabalho estão linhas e resíduos e ele borda e costura em suas criações. Mas o jornalista Ricardo Rodrigues não faz moda. Há dois anos, ele fundou a Experimentos Impressos e mescla arte gráfica e literária em uma proposta com princípios semelhantes ao da moda sustentável, com a valorização do trabalho de quem faz, produção em pequena escala, reaproveitamento de materiais e design. Ricardo é o responsável pela criação da marca circul@moda e também prepara o lançamento do livro Bacias Hidrográficas. Entre suas próximas ações também está uma Oficina de Bordado em Papel, no dia 9 de maio, na Casa Baka, em Porto Alegre. Conheça um pouco mais da Experimentos Impressos e da arte produzida por Ricardo Rodrigues nesta entrevista para o circul@moda.

Quando resolveu criar a Experimentos?

O projeto Experimentos Impressos teve seu embrião em 2015. Escrevo textos de ficção há bastante tempo, e costumava “distribuir” em blogs e nas minhas redes sociais. Na ocasião, postei uma série de três minicontos no meu Facebook, e vários amigos comentaram, porque se tratava de relacionamentos. Esse resultado foi tão legal que resolvi produzir uma tiragem de 10 exemplares impressos dessas histórias e dei de presente para esses amigos.  Vi então que queria continuar fazendo aquilo, mas até então sem nenhuma pretensão.

 

É um projeto literário ou gráfico?

É a união das duas coisas. Eu sempre tive apreço por design editorial, por conta dos dois cursos de comunicação que fiz, então queria imprimir minhas histórias e dar uma cara para elas. Então defini que o projeto seria um selo independente de autopublicação, para publicar poemas, contos e outros textos que eu tinha arquivados, bem como inéditos. São pequenas tiragens produzidas manualmente, incluindo encadernação artesanal.

 

A Experimentos surgiu em um momento interessante, pois o cenário independente estava estabelecendo um espaço inacreditável. A proliferação de feiras especializadas é a ponta disso, de um trabalho que vem sendo feito há anos, e que agora ganha mais visibilidade. Para quem produz texto literrário, é como se fosse um movimento de contrafluxo, ou seja, as baixas tiragens e produção muitas vezes artesanal vai contra o movimento industrial das grandes editoras. A ideia não é confrontar isso, mas apenas ter uma possibilidade diferente para quem quer fazer seu trabalho circular, e da forma que mais lhe agradar.

 

Como você consegue os materiais? Que tipos de materiais usa?

Uso diferentes tipos de papeis, inclusive reciclados. A ideia é, para alguns tipos de projetos, produzir esse papel reciclado em casa, pórque ele confere um acabamento bem interessante. Em outros casos são papeis comuns, adquiridos em papelarias. Como o nome do projeto diz, a ideia é experimentar.

 

Como é artesanal, os materiais acabam sendo um pouco exclusivos, não é?

Sim, tem títulos que não ultrapassaram 10 ou 20 exemplares, outros continuam tendo novas impressões. Mas de qualquer forma, sempre há um caráter de singularidade, porque, quando existe acabamento com bordado por exemplo, nenhum exemplar fica igual ao outro.

 

Em alguns, você costura também e borda. Como é isso? Você aprendeu com quem?

Boa parte do que aprendi foi por consulta em videos tutoriais, textos em sites e, posteriormente,  testando e errando até acertar. Recentemente até cursei algumas oficinas para aperfeiçoar coisas que esses tutoriais não mostravam, mas a maior aprte das técnicas foi por pesquisa.

 

Atualmente, quanto você já produziu?

Entre março de 2016 (mês que o projeto foi oficializado) até março de 2017 publiquei 36 títulos. Disso, cerca de 310 exemplares foram vendidos ou trocados em feiras gráficas, eventos ou pedidos online.  Além dos livretos, minibooks e zines, existem os desdobramentos, que são pôsteres e ilustrações (como a série ANATOMIA, que é consequência de uma coleção de zines com poemas em três volumes).

 

Qual teu plano/objetivo com a Experimentos?

O objetivo é estruturar mais o projeto como editora, aperfeiçoar técnicas de impressão e circular por mais eventos. A característica original sempre será a mesma, que é produzir tiragens reduzidas para privilegiar o trabalho manual. E, também, em médio ou longo prazo, poder publicar, ocasionalmente, textos/fotos/ilustrações de outros escritores e artistas.

Link relacionado: https://www.sympla.com.br/oficina-de-bordado-sobre-papel__137530Co